Assessorias privadas chegam às escolas em Campinas

As consultorias privadas avançam em inúmeros municípios em nosso país. Seja na forma de fundações ou de ONGs, os reformadores empresariais estendem seus braços privatistas para o campo da educação especialmente as escolas públicas.

Este processo que se desenvolve há alguns anos de forma perversa em nosso país, vem sendo denunciado pelos educadores como uma forma quase dissimulada de privatização do espaço educativo público.

O governo municipal de Campinas vem tentando, desde o início da gestão, em janeiro de 2013, impor as assessorias da Falconi e Comunitas nas escolas municipais com o objetivo declarado de auxiliar na “gestão administrativa” cujo desempenho, segundo elas, é responsável pelo sucesso ou fracasso no aprendizado dos alunos.

O convenio Nº 68_2013, firmado entre PMC e a Comunitas, estabelece, em seu parágrafo terceiro, que o projeto será financiado pela própria conveniada, que poderá (sic) captar recursos financeiros para sua execução perante empresas e institutos, sem qualquer restrição ou limitação.

Não há desembolso de recursos públicos ou repasse de verba orçamentária a tais empresas de consultoria. No entanto, nas páginas seguintes (págs. 3 e 4 ) identificamos a forma sutil como se dá o apoio obrigatório da PMC ao convênio: apoio politico institucional e fornecimento de dados técnicos bem como indicação de servidores públicos capacitados para o apoio, além de disponibilização de equipamentos .

Mas, além disso, a PMC tem como responsabilidade/obrigação/competência no referido Convênio, efetuar a articulação de parceiros financiadores do Projeto que possam vir a oferecer apoio institucional para suprir as necessidades de hospedagem e alimentação que, porventura, os integrantes das equipes de trabalho envolvidas na execução do objeto vierem a apresentar.

Essa mesma “articulação de parceiros financiadores” se materializará, certamente, quando os resultados da referida assessoria indicarem a compra de material didático e oferecimento de “produtos educacionais”.

Ou seja, instala-se, com essas assessorias, um mercado educacional na Secretaria de Educação do município, afastando os educadores – professores, diretores, orientadores e coordenadores pedagógicos e supervisores, da atividade de criação, proposição, planejamento e avaliação da politica educacional e do projeto politico pedagógico da escola.

Os educadores da rede municipal de Campinas vêm denunciando tais ações, inclusive as resistências que se desenvolvem em outras redes, como a de Pelotas -RS, onde o apoio da Câmara de Vereadores e da Universidade foi fundamental para reverter até o momento, o assalto do empresariado aos recursos públicos. Mas a sanha deste setor não tem limites, principalmente com o apoio do PNE sancionado que permite destinação de recursos públicos para a educação privada.

Mas sabemos todos que  a resistência interna dos educadores a esse processo que visa regular e controlar o trabalho docente e as práticas educativas e pedagógicas da escola pública, é fundamental para barrar, no chão da escola, a concepção mercantilista e privatista da educação. E saberemos também construir um Plano Municipal de Educação que barre estas iniciativas na rede municipal de Campinas.

Os empresários vêm se dedicando a tratar a educação, a escola e o ensino, como tratam a produção de objetos, visando sempre e primordialmente o lucro.  A educação não se encaixa nesta forma capitalista de moldar as consciências. E os educadores, que formam os sujeitos de um novo tempo de progresso e emancipação, têm seus olhares voltados para um presente que prepara uma outra sociedade no futuro.

Esta luta demanda muitos combatentes.

 

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7 respostas para Assessorias privadas chegam às escolas em Campinas

  1. Maria Estela Sigrist Betini disse:

    Ótimo Helena, sempre batalhando pela Educação pública.

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  2. Evandro Boff disse:

    Este país só vai inverter o placar do atraso na educação quando seus gestores pararem com este ódio contra a livre iniciativa, que no fundo é o que gera emprego e renda ao nosso povo. Os países desenvolvidos honram e glorificam seus empresários, os daqui com a retórica esquerdista gramscista que há anos deixam nossas escolas na rabeira de qualquer índice educacional mundial.

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    • Há controvérsias caro Evandro. A livre iniciativa em educação no Chile gerou 100 mil pessoas protestando nas ruas. Todos esquerdistas? Duvido. Nos Estados Unidos os empresários dominam a educação, aliás, o próprio Ministério da Educação. Eles estão na média do PISA há 10 anos e nas medições internas, não avançaram em todos estes anos. Para o nível deles, isso é muito pouco. Sem contar os inúmeros efeitos colaterais das propostas empresariais documentados na literatura. Não há dados que mostrem que resolveram os problemas educacionais. Acreditar em empresário na educação é fé e não ciência. Caso queira mais dados consulte http://avaliacaoeducacional.com .

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  3. ROBERTO HELOANI disse:

    ÓTIMO TEXTO!!!
    ESTIVE NO CHILE, LOGO APÓS O PROCESSO DE PRIVATIZAÇÃO, E NAS TRÊS SEMANAS QUE CONVIVI COM O POVO FUI TESTEMUNHA DO DESMONTE DA EDUCAÇÃO NACIONAL. MAS NÃO SÓ ISSO.
    O MESMO SE FEZ COM A SAÚDE E COM A PREVIDÊNCIA SOCIAL. ESTA ERA PÚBLICA , FOI “PRIVATIZADA” APÓS TERRORISMO MIDIÁTICO – ALEGAVA-SE QUE IA QUEBRAR – E MEDIANTE DISPOSITIVO JURÍDICO FRANQUEOU-SE ÀS PESSOAS QUE TRANSFERISSEM SUAS ECONOMIAS PARA AS “PREVIDÊNCIAS PRIVADAS”, DO TIPO PGBL, VGBL.
    ESTAS “QUEBRARAM”….;
    NÃO OS BANQUEIROS, É CLARO. QUALQUER SEMELHANÇA COM O BRASIL…
    Roberto Heloani_ por 22 anos foi docente na FGV/SP , no Dep. de Adm Pública e Fundamentos Sociais e Jurídicos da Administração. Atualmente é Prof Titular na UNICAMP.

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  4. Pingback: Privatização da educação semelhante à de Campinas é suspensa em cidade gaúcha | CartaCampinas

  5. Laercio Franco disse:

    Achar que privatizar o ensino solucionará a defazagem educacional é, no mínimo, leviano. É deixar de enxergar as lacunas sociais que fazem de nossos alunos casos difíceis. A falta de estrutura familiar e de serviços básicos superam as boas intenções educacionais (e as interesseiras), deixando os educadores batendo de frente com “alunos” bandidos e/ou sem perspectivas. O tripé formação continuada, estrutura escolar e bons salários é fundamental, mas junta-se à qualidade do aluno, para assim, atingir índices educacionais elevados.
    Laercio Franco: professor da rede municipal e particular há mais de 20 anos e professor da Metrocamp

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  6. Mabel Servidone disse:

    A Prefeitura Municipal de Campinas deveria investir na melhoria das condições de vida da população (pais e outros responsáveis por crianças e jovens). Para que estes invistam nas suas crianças; estudar a evasão, principalmente do ciclo IV e de EJA I e II do ensino fundamental ( O Estado , com a evasão no ensino médio); e investir muito na formação de seus quadros, não somente professores, mas engenheiros , médicos etc. Não adianta fazer concurso e depois burocratizar os processos de trabalho. Aquele que atende o “Público” tem que ter um olhar diferenciado. Em 2013 nenhum projeto de grande reforma de escola (haviam dezenas) pode ser executado, porque os profissionais da área não conseguiram fazer laudos técnicos que fossem aprovados. Qual é a solução da Secretaria: terceirizar.
    Não há necessidade de empresas que planejem a escola. Precisamos de planejamento para a educação de longo prazo, com uma opção política clara pela melhoria da educação pública, com esta discussão política estendida aos profissionais que estão no chão da escola. Um olhar para o que é público e não para o umbigo. Um olhar para a sociedade e não para a escolinha. Olhar para as questões educacionais com coragem e investimento (do público para o público). Projetinho com empresa é pouco durável e de resultado duvidoso, porque o olhar é para a empresa. A escola hoje para seus alunos e sua formação é bem melhor que antes. Pode ser muito mais!

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